Nina olha para sua barriga que cresce a cada dia. Sem lembrar quando aquilo aconteceu, ela passa a mão pela sua barriga com carinho. Um sorriso tímido surgindo nos lábios mostra o quanto Nina está feliz. Nua ela fica se olhando no espelho por horas. Imagina que aquilo é eterno, ou que pelo menos dure nove meses. Sua mãe bate na porta com uma determinação maternal. Nina se espanta e prende o choro. Sua mãe fala coisas para ela que toda mãe fala para uma menina com a barriga crescendo. Nina não ouve. Está muito triste para ouvir e quer continuar imaginando que aquilo é eterno. Sua mãe a pega pela mão e Nina finge não lembrar para onde está indo. Ela tenta esquecer a todo custo. Não tira a mão da barriga por nem um instante. De repente ela fecha os olhos com medo da dor e uma lágrima escorre. Nina se perde por alguns instantes dentro de sua barriga crescente. Abre os olhos e vê o rosto de sua mãe. Esta segura a mão da filha com força, séria, mas sem sinal de preocupação. Nina nua volta para frente do espelho e sua barriga não cresce mais. Ela sente saudades daquela barriga bonita. Sente saudades de fingir que aquilo era eterno. Nina faz de conta com uma almofada e sua mãe entra no quarto fingindo que não viu e que não sabe. Nina sofre. Pega uma boneca colocando-a no colo, dando de mamar. Ela quer a barriga de volta e o que nela estava crescendo. Nina não lembra quando aquilo aconteceu porque ela não sabe como essas coisas acontecem. Achou que fosse coisa de Deus porque foi assim que ensinaram para ela. Aquilo que aconteceu ela não sabia o que era. Ficou feliz quando soube que sua barriga ia crescer pois foi assim que aconteceu com Maria. Mas Nina não é mãe de Jesus e também não era virgem como Maria. Alguém disse para ela que aquela coisa era pecado, mas ela não sabia que coisa era aquela. Sua mãe fingiu que não sabia. Nina sofria, mas ela sim não sabia o que acontecia. Nina era menina, muito menina, gostava de brincar de boneca. Achou que fosse ter uma boneca só dela que estava crescendo em sua barriga. Sua mãe não gostou de ser mãe de mãe. Sua mãe fingia que nada acontecia. Sua mãe fingia muito. Fingia tanto que tampava o ouvido a noite, prendia o choro. Mas aquela barriga crescendo não dava pra fingir, e muito menos o que sairia daquela barriga. Nina chorava sozinha às vezes. Outras vezes brincava de boneca e de fugir de casa. Nina sabia que aquilo doía e Nina a noite sofria. Mas de manhã acordava e sorria, porque ainda brincava de boneca e gostava de fadas e sonhava em ser princesa. Depois daquele dia em que Nina perdeu a barriga crescente nunca mais foi a mesma. Não tinha mais graça a brincadeira com boneca de plástico, ela queria a boneca crescendo dentro dela. Mas Nina ainda acreditava em fadas e quis voar como uma. Então um dia Nina saiu voando pela janela de seu quarto. Voou tão alto que nunca mais voltou. Sua mãe fingiu que ela ainda ia voltar. E agora à noite ela não consegue mais prender o choro.
Esse conto eu já coloquei no blog, mas como eu gosto muuuuito dele resolvi colocá-lo de novo pros meus novos visitantes poderem ler! =)
E aí vão links de posts antigos que eu gosto muito e adoraria que vocês lessem:
Ela http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/02/ela.html
Sensibilidade http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/07/sensibilidade.html
Cansei http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/04/cansei.html
Sem nome http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/04/uma-noite-clara-de-calor-intenso.html
Me perdi http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/01/me-perdi.html
Imagens http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/10/imagens.html
O Silêncio (talvez meu melhor conto) http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/09/o-silncio.html
Folhas Amareladas http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/08/folhas-amareladas-um-conto-inacabado.html
Fechar http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/07/fechar.html
Essa casa esse cheiro http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/07/essa-casa-esse-cheiro.html
Vulnerável http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/07/vulnervel.html
Lágrimas http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/10/lgrimas.html
Ufa! são muitos. Espero que leiam e gostem!!!!
Friday, November 30, 2007
Friday, November 23, 2007
Ponte
Tudo aconteceu rápido e inesperado. Tudo aconteceu errado.
Um ponte entre eles, e essa ponte o levou para longe. E quando chegavam perto... fingiam que não viam. Eles tentavam olhar pro outro lado. Até que um dia eles chegaram tão perto que não deu mais para fingir. A ponte continuava lá e o levou embora. Tudo pareceu tão errado. Ele sempre querendo cuidar dela, e foi ele mesmo que fez o estrago. E mesmo depois que a ponte se partiu, ele não conseguiu voltar. Desaprendeu o caminho de volta. E ela ficou esperando por ele. Tão só.
Ele foi o primeiro de muitos. Ele foi. Ele simplesmente foi.
Talvez ela continue a espera dele.
Um ponte entre eles, e essa ponte o levou para longe. E quando chegavam perto... fingiam que não viam. Eles tentavam olhar pro outro lado. Até que um dia eles chegaram tão perto que não deu mais para fingir. A ponte continuava lá e o levou embora. Tudo pareceu tão errado. Ele sempre querendo cuidar dela, e foi ele mesmo que fez o estrago. E mesmo depois que a ponte se partiu, ele não conseguiu voltar. Desaprendeu o caminho de volta. E ela ficou esperando por ele. Tão só.
Ele foi o primeiro de muitos. Ele foi. Ele simplesmente foi.
Talvez ela continue a espera dele.
Monday, November 12, 2007
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