Tuesday, March 17, 2009

O rio estava gelado, tão gelado que doía. Sentada na pedra, os pés mergulhados na água, tentando se acostumar. O frio era intenso. Os sentimentos também. Me dê sua mão e vamos entrar juntos - dizia ele. E juntos dormiram na cabana enrolados por cobertores no inverno em pleno verão. As cigarras prontas para o acasalamento cantavam alto. Enquanto eles dormiam juntos, enquanto eles sentiam juntos. Acordavam com a claridade entrando pela janela, e será que está sol? Se estiver sol dá para entrar na cachoeira.
O corpo todo doía. O corpo chorava. O corpo amava.
Ela mergulhou de cabeça no rio mais bonito de todos. Ela parou de sentir. A água gelada anestesiou o corpo que sofria. Juntos deitaram na pedra quente onde o sol batia forte. Ao ar livre trocaram carícias. Se esquentaram.
Ele gostava do cheiro de mato, e comia framboesas que encontrava pelo caminho. Andavam, conversavam, se entendiam. Não lembravam de mágoa. Não lembravam de nada. Não conseguiam saber mais o que eram. Eram fortes e juntos. Eram juntos e intensos. Eram intensos e separados. Eram eles. Eram nada. Nada.
Vento forte no rosto, mãos dadas, dedos entrelaçados, pensamentos longínquos e sentimentos. Voltaram para a realidade que dói no corpo. Agora distantes cada um segue para um lado. Ela se perde. Ele se perde. Eles se perdem um do outro. Por um mês. Por um tempo. Por tanto tempo. Talvez para sempre.

Sunday, March 01, 2009

O que fazer quando não se tem mais nada a fazer?

Ela se perguntava isso dia e noite e perdia sono. Ela rolava na cama tentando achar alguma saída, alguma solução menos penosa. Ela não queria encarar os fatos. Os fatos encaravam ela e não a deixavam pensar em mais nada. Os pensamentos se perdiam nos sentimentos, e os sentimentos se perdiam nos pensamentos.
A saudade de ter sido alguém que ela não era mais. Ela não queria mais aqueles sentimentos e pensamentos. Ela estava cansada. Era só o sol nascer que ela acordava angustiada. Acordava com os pensamentos borbulhando, e os sentimentos doendo. Acordava e lembrava de tudo que a machucava. Ela não queria mais acordar. Ela não queria mais dormir. Ela não queria mais pensar. Ela não queria mais sentir.