Monday, December 24, 2007

E volto a falar:

o futuro me dói na alma.
ando com os nervos a flor da pele

...esse fim de ano que acontece todo ano....






É possível amar normalmente depois de tantas mágoas? É possível esquecer e deixar tudo para trás e viver junto de novo? É possível???
E aquela dor que dá no peito quando lembro de certas coisas?


Friday, December 21, 2007

Ela não sabia que águas tinham tranbordado dos olhos dele naquela noite. Ela não sabia nem que era possivel águas transbordarem dos seus olhos. Ela não podia imaginar quanta dor iria causar isso tudo.
Ela foi atrás dele pra ver se ele estava bem. Ela abraçou ele, e ele achou que aquilo pra ela não tinha mais significado, que aquilo era apenas um gesto.
Aquilo tinha sim significado. Aquilo sempre terá significado pra ela. Assim como ele.
Abraçar ele não foi e nem nunca será só um gesto.
Ela deu tantas chances... Ela teria dado o mundo se ele quisesse... teria dado até o maior amor do mundo. E ela deu!!! E ele fingiu q não amava ela, e ela tentou acreditar que ele amava. Por mais de 2 anos ela tentou.
Agora ela tem certeza de que é amada. Agora ela sabe e ela sente. Agora ela é... Agora ela é.

Monday, December 17, 2007

Dúvidas correm.

Coisas boas vem sempre em dupla, e infelizmente uma não pode co-existir com a outra.
Infelizmente...

Querer X precisar.

Friday, November 30, 2007

Nina e link dos meus melhores posts

Nina olha para sua barriga que cresce a cada dia. Sem lembrar quando aquilo aconteceu, ela passa a mão pela sua barriga com carinho. Um sorriso tímido surgindo nos lábios mostra o quanto Nina está feliz. Nua ela fica se olhando no espelho por horas. Imagina que aquilo é eterno, ou que pelo menos dure nove meses. Sua mãe bate na porta com uma determinação maternal. Nina se espanta e prende o choro. Sua mãe fala coisas para ela que toda mãe fala para uma menina com a barriga crescendo. Nina não ouve. Está muito triste para ouvir e quer continuar imaginando que aquilo é eterno. Sua mãe a pega pela mão e Nina finge não lembrar para onde está indo. Ela tenta esquecer a todo custo. Não tira a mão da barriga por nem um instante. De repente ela fecha os olhos com medo da dor e uma lágrima escorre. Nina se perde por alguns instantes dentro de sua barriga crescente. Abre os olhos e vê o rosto de sua mãe. Esta segura a mão da filha com força, séria, mas sem sinal de preocupação. Nina nua volta para frente do espelho e sua barriga não cresce mais. Ela sente saudades daquela barriga bonita. Sente saudades de fingir que aquilo era eterno. Nina faz de conta com uma almofada e sua mãe entra no quarto fingindo que não viu e que não sabe. Nina sofre. Pega uma boneca colocando-a no colo, dando de mamar. Ela quer a barriga de volta e o que nela estava crescendo. Nina não lembra quando aquilo aconteceu porque ela não sabe como essas coisas acontecem. Achou que fosse coisa de Deus porque foi assim que ensinaram para ela. Aquilo que aconteceu ela não sabia o que era. Ficou feliz quando soube que sua barriga ia crescer pois foi assim que aconteceu com Maria. Mas Nina não é mãe de Jesus e também não era virgem como Maria. Alguém disse para ela que aquela coisa era pecado, mas ela não sabia que coisa era aquela. Sua mãe fingiu que não sabia. Nina sofria, mas ela sim não sabia o que acontecia. Nina era menina, muito menina, gostava de brincar de boneca. Achou que fosse ter uma boneca só dela que estava crescendo em sua barriga. Sua mãe não gostou de ser mãe de mãe. Sua mãe fingia que nada acontecia. Sua mãe fingia muito. Fingia tanto que tampava o ouvido a noite, prendia o choro. Mas aquela barriga crescendo não dava pra fingir, e muito menos o que sairia daquela barriga. Nina chorava sozinha às vezes. Outras vezes brincava de boneca e de fugir de casa. Nina sabia que aquilo doía e Nina a noite sofria. Mas de manhã acordava e sorria, porque ainda brincava de boneca e gostava de fadas e sonhava em ser princesa. Depois daquele dia em que Nina perdeu a barriga crescente nunca mais foi a mesma. Não tinha mais graça a brincadeira com boneca de plástico, ela queria a boneca crescendo dentro dela. Mas Nina ainda acreditava em fadas e quis voar como uma. Então um dia Nina saiu voando pela janela de seu quarto. Voou tão alto que nunca mais voltou. Sua mãe fingiu que ela ainda ia voltar. E agora à noite ela não consegue mais prender o choro.


Esse conto eu já coloquei no blog, mas como eu gosto muuuuito dele resolvi colocá-lo de novo pros meus novos visitantes poderem ler! =)
E aí vão links de posts antigos que eu gosto muito e adoraria que vocês lessem:
Ela http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/02/ela.html
Sensibilidade http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/07/sensibilidade.html
Cansei http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/04/cansei.html
Sem nome http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/04/uma-noite-clara-de-calor-intenso.html
Me perdi http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2007/01/me-perdi.html
Imagens http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/10/imagens.html
O Silêncio (talvez meu melhor conto) http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/09/o-silncio.html
Folhas Amareladas http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/08/folhas-amareladas-um-conto-inacabado.html
Fechar http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/07/fechar.html
Essa casa esse cheiro http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/07/essa-casa-esse-cheiro.html
Vulnerável http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/07/vulnervel.html
Lágrimas http://dissolvidaemversos.blogspot.com/2006/10/lgrimas.html
Ufa! são muitos. Espero que leiam e gostem!!!!


Friday, November 23, 2007

Ponte

Tudo aconteceu rápido e inesperado. Tudo aconteceu errado.
Um ponte entre eles, e essa ponte o levou para longe. E quando chegavam perto... fingiam que não viam. Eles tentavam olhar pro outro lado. Até que um dia eles chegaram tão perto que não deu mais para fingir. A ponte continuava lá e o levou embora. Tudo pareceu tão errado. Ele sempre querendo cuidar dela, e foi ele mesmo que fez o estrago. E mesmo depois que a ponte se partiu, ele não conseguiu voltar. Desaprendeu o caminho de volta. E ela ficou esperando por ele. Tão só.
Ele foi o primeiro de muitos. Ele foi. Ele simplesmente foi.

Talvez ela continue a espera dele.

Friday, October 19, 2007

4

Eu resisti o máximo que pude ao seu olhar. E sempre achei que você fosse desistir de mim. Mas não. Você não desiste. Nunca desiste. Há 4 anos. E foram tantos beijos e tantos carinhos. Mas nenhuma palavra foi dita. Nós nunca dissemos nada!
4 anos.
Eu lembro a primeira vez. A segunda, a terceira, e todas! Eu não esqueço. Muito menos você. Eu não te esqueço.
Fomos, voltamos, amamos, namoramos outros e... sempre terminamos um nos braços do outro. Meu porto seguro.
Você é meu porto seguro. Quando não tenho mais ninguém, quando acho que estou só, você surge. E eu vejo o quanto gosto de você, o quanto renego seu amor. Meu amor.
Há 4 anos que eu tenho a ti, e você a mim.
E se algum dia a gente se esbarrar e se você quiser, eu te aceito. Eu aceito!

Wednesday, October 17, 2007

aos 12 anos

Todo dia na sala de aula ele me olhava. Eu desviava o olhar, como quem finge que não está percebendo. Mas eu percebia, e não só percebia como queria. Só que eu era uma menininha medrosa. Meu medo tomou conta de mim, e eu não quis acreditar que aquele menino podia gostar tanto de mim quanto eu dele.
E anos se passaram... até que a gente se reencontrou, e se olhou. O olhar era o mesmo. Ele me olhou exatamente da mesma forma que me olhava há 10 anos atrás. Olhar de menino admirado, admirando. Eu novamente gelei, e novamente tive medo.
Ele perguntou: "lembra de mim?" e eu disse que sim com a cabeça e disse: "pensei que você que não lembrasse de mim". Ele sorriu para mim: "claro que eu me lembro de você, eu fui apaixonado por você, tenho um caderno cheio de poemas que escrevi para você".
Com medo eu fugi. E continuo fugindo sem acreditar que possam existir poemas para mim.

Saturday, October 06, 2007

de novo.

e eu me perdi de novo, assim como se perdem os guarda-chuvas. está tudo se repetindo novamente. nada muda! nem as palavras ditas e soltas no ar. a solidão se entranha na minha pele e meus póros exalam suor triste de quem lutou desesperadamente. e essa luta eu perdi. tento me manter lúcida, e me manter de pé, mas meu corpo cai exausto. tudo que vejo é escuridão. me perco te perco nos perco. não, nós não vamos nos achar.





Me proteja do que eu quero.



Dessa vez eu quero repelir tudo que vem de ti.

Monday, September 24, 2007

coisas

Eu queria te dizer coisas bonitas, mas as coisas bonitas para serem ditas já se esgotaram. Eu te disse tudo de mais bonito que existe e agora não há mais nada para dizer, só para sentir. E as vezes acho que nem isso há mais. Daí é que eu vejo que sentimentos nunca se esgotam. Eles mudam, mutam, transforam, mas nunca se esgotam. O que se esgota é a gente. Ô gente!

Tuesday, August 28, 2007

Náuseas

Já não sei o que quero
E o cheiro do passado
Flashes, lembranças
O cheiro me dá náuseas
Angustia de reviver
No presente

Acabou
A história acabou.
O cheiro continua lá
Não, não quero mais
Mas não , não consigo ir embora
Nunca consigo
Como se aquele cheiro.... sumisse....
Foi assim, é assim
Sempre voltando atrás
A angustia que sentia
Me confunde e se funde
Com a vontade de ficar
E reviver é um peso

Flash, lembranças
Náuseas
Desgosto
Foi bom e ruim
Voltar é um erro
Errar da náuseas
Procuro algo para me certificar
Que nada foi em vão
Ele diz que não
Mas encontro paginas escritas
Poucas contém meu nome
Foi assim, é assim, sempre
Elas estão sempre
Nas paginas escritas
E mais uma vez
Me sinto fraca
Vazia
Sinto que estou sumindo...


E o cheiro está sempre lá
Mas sempre que parto
Tenho medo
Do cheiro sumir
E elas sentem o cheiro
O passado que é meu
E o presente não é mais
Não, não quero mais
Mas não, não consigo ir embora,
Pois toda vez que parto
Nós dois sumimos mais um pouco.


Náuseas
Sinto náuseas!!!!!!!



(Meu poema um pouco modificado por um ninguém)

Friday, July 06, 2007

Sensibilidade

Não vejo cores
Nem crio amores
Meus poemas são fracos
Sem rimas
Beleza

Traços oprimidos
Em desenhos e pinturas
Nada de belo
Tocante

O não sentimento
Em rimas pobres
Cores pálidas
Palavras comuns
Traçados sujos

A não arte
Inexistentes criações
Criatividade que se esvai
Racionalidade

Penso, então
Falta sensibilidade




Postando esse poema de novo porque eu gosto muito dele e ele é bastante elogiado!!! rs

Thursday, June 28, 2007

Suas palavras

A dor é tanta que eu não consigo escrever.
Sinto amor e raiva. Ódio por ter te perdido.
E eu te perdi, assim como se perdem os guarda-chuvas. Talvez, eu nunca te ache mais. E as lágrimas não param de cair de meus olhos.
Amigos. Seremos, um dia, amigos, pura e simplismente. Mas uma amizade verdadeira. Daquelas dificeis de encontrar.
Mas por enquanto é isso. Cada um pro seu lado.
E a vida segue normalmente.


"DEPOIS DE UM FIM

Que droga
Saber que apesar de tudo ela ainda existe,
Estranho ver
Em seu rosto a felicidade não causada por mim,
Dá raiva,
Vontade de arrancar aquele sorriso da cara dela.
...
Tenho raiva:
Da sua felicidade, dos seus amigos da possibilidade de outro.
Tenho medo,
Ainda não sei do que mas sei que tenho.
Tenho marcas
De tuas mãos na minha vida...
Sonho ainda
Com a tua imagem, tua presença, teu calor e teus beijos..."


Faço das suas palavras as minhas, meu amor, meu grande amor.

Thursday, June 14, 2007

meus olham que ainda brilham


Meus olhos que ainda brilham
assim sem motivo
eles brilham e brilham
mais do que deviam

meus olhos que só sentem
e deixam de enxergar
enxergam o mundo diferente

meus olhos são pequenos
vêem tudo embaçado
distorcem as coisas
as cores nunca são as mesmas

meus olhos pequenos me enganam
enxergo o que não devia e me arrependo

meus olhos são pequenos
e ainda brilham
brilham mais do que deviam

Wednesday, June 06, 2007

tem coisas que eu quero saber, mas depois que as sei me arrependo.





Nó cego
Não se desfaz
As cordas continuam puxando
Presas ao branco pálido
Do corpo
Corpos se movimentam
Em direção oposta
Se cruzam mesmo assim
Se encontram e se encostam
E o nó,
nunca se desfaz.




Você me deixa cega.

Saturday, May 19, 2007

Trecho

"Não havia razão para conversas. Comunicavam-se apenas o suficiente para cumprir os rituais domésticos. Aos poucos, o silêncio foi coagulando os sentidos e camuflando as feridas. Continuavam dormindo na mesma cama e por duas vezes chegaram a fazer sexo. Para quem olhasse de fora parecia que o casal estava tentando, com algum sucesso, superar a crise. Mas não era bem assim. Deram-se apenas uma trégua, pois ambos estavam num tal estado de perplexidade que não se atreviam a decidir nada. Esperavam talvez que o tempo indicasse uma solução. Contudo, o passar dos dias, tendo acalmado a superfície, foi desencadeando, por outro lado, estranhos movimentos submersos."

Trecho do livro Ruídos e pequenos movimentos, escrito por ninguém mais ninguém menos que meu amado e querido pai!
Quando eu crescer quero escrever bem assim que nem ele. rs

Wednesday, May 02, 2007

Cordas

Ela tenta se movimentar, mas está presa por cordas que a puxam para trás. Se segura em objetos e faz força pra frente. Suas mãos estão fracas. Num piscar de olhos ela solta os objetos e as cordas a puxam com toda a força para trás fazendo-a cair. Machucada ela se levanta e começa a fazer força para frente novamente. Seres inertes passam por ela. Alguns oferecem ajuda, mas não adianta pois a inércia não permite que eles se movimentem. Ela respira fundo. Algumas lágrimas caem de seus olhos. Ela tenta cortar as tais cordas. As cordas são grossas, não se arrebentam facilmente. Ela continua tentando a todo custa se movimentar. De repente ela percebe que as cordas estão se soltando aos poucos. Ela sente um alívio. Ela sente um frio na barriga e uma ansiedade em ser livre.

Wednesday, April 18, 2007

Cansei.

Cansei dessas borboletas no meu estomago. Queria que elas morressem queimadas no meu suco gástrico. Assim novas borboletas poderiam nascer e crescer dentro de minha barriga. Cansei dessa velha dor no peito que a angustia de te ter me dá. Cansei dessa lágrima presa no olho que eu não consigo chorar e desse nó na garganta que eu não consigo desfazer. Cansei da sua imagem nua e da sua cara de gozo no meu pensamento. Cansei dessa esperança idiota de te perder e te esquecer. Cansei. Cansei de você e de mim e de nós dois juntos e separados. Cansei desse amor que não cresce e nem some. Cansei de saber o que vai acontecer no dia seguinte. Eu quero a surpresa que você não pode mais me dar.

Tuesday, April 03, 2007

Uma noite clara de calor intenso. Sua tosse e uma música tocando bem baixinho eram as únicas coisas que se podia ouvir dentro daquele quarto. Qualquer outro barulho era abafado. Suas mãos percorriam lentamente pelo corpo dela, que estava deitada de bruços quase dormindo. Ele olhava para ela com olhos admirados. Ela apenas dormia. Ele tentava sentir, ela sonhava que estava sentindo, mas nenhum dos dois era capaz. O sentimento era verdadeiro, mas não foi em nenhum momento forte o suficiente. Ele tossia tanto que a fez acordar. Despertou lentamente com um pequeno sorriso nos lábios. Ele beijou-lhe o rosto e deitou-se ao seu lado. O pequeno sorriso nos lábios aumentou um pouco de tamanho. Agora os dois se acariciavam. Ele sussurrou algo no ouvido dela, e ela beijou-lhe na boca. Sua boca era macia assim como suas bochechas que de tão macias afundavam. Se beijaram mil vezes tentando sentir. Dormiram abraçados pois a cama de solteiro era pequena demais. Acordaram com os corpos relaxados de prazer. E tal cena se repetiu por algumas noites, até que ela não teve mais o sorriso pequenos nos lábios, e ele não a olhava mais com olhos admirados. Ele voltou para o passado com seus olhos pequenos e ela continuou no presente com sua pele pálida.

Tuesday, March 27, 2007

Lacrimejantes

Eu disse para ele me esperar, mas ele foi embora. Numa tarde fria de julho, meus olhos lacrimejavam por causa do vento que não cessava por um minuto sequer. Estávamos andando juntos pelas ruas cheias e solitárias de São Paulo. Conversávamos sobre coisas tolas como o porque do cadarço do meu allstar preto ser branco, ou o bar que tínhamos ido na semana anterior. Mas como toda a conversa ganha vida e vai se encaminhando para assuntos diversos, terminamos falando sobre nós. E nós éramos casados há 2 anos e 10 meses e eu não estava grávida. Morávamos em uma casa com jardim na frente e havia um balanço que nunca era usado. A conversa chegou no balanço. Ele ficava extremamente incomodado de termos um balanço no jardim que não era usado. Eu achava que aquele balanço era apenas um balanço, e quase nunca olhava na sua direção. E a conversa foi crescendo no tom, as vozes ficaram mais altas. Ele queria uma coisa e eu ainda não. Minha boca estava toda rachada por causa do frio e meu nariz estava gelado. Parei numa loja para comprar um café quente, e pedi para ele me esperar pois tomaria o café andando. Mas ele foi embora. Me deixou sozinha naquela tarde fria de julho com os olhos lacrimejantes. E nunca mais voltou.

Thursday, March 22, 2007

Irmãs (um conto muito antigo)

- E aí, como estou?
- Está linda!!!
- Mentira!
- Por que eu ia mentir?
- Sei lá.
- Você é muito insegura, sabia?
- Não sou, não. Mas você ainda não me respondeu...
- O que?
- Estou linda, bonita, normal, feia ou medonha?
- Respondi sim.
- O que foi mesmo?
- Você está linda!
- Ah é! Tinha me esquecido.
- Sei...
- Mas ainda não to gostando. Acho que não fico muito bem de azul. Eu disse pra mamãe que queria rosa!
- Você fica muito bem de azul, combina com os seus olhos.
- Mas eu queria rosa!
- Você é muito chata, sabia? Se eu fosse a mamãe não deixava você ir nessa festa.
- Graças a Deus você não é a mamãe! Você daria uma péssima mãe.
- Por que diz isso?
- Porque você é chata, ranzinza, reclama de tudo...
- Eu não sou chata. Nem ranzinza.
- Mas reclama de tudo.
- De tudo o que? Quem tá reclamando até agora é você.
- Mas eu posso!
- Por que você pode e eu não?
- Por que eu sou bonita e inteligente, quando eu reclamo ninguém se importa, todos querem mais é me agradar.
- Você é muito convencida, sabia? E eu também sou muito bonita e inteligente, viu?!
- Tão bonita que nem tem coragem de ir à festas. Já eu posso ir sem me preocupar, sei que todos os meninos vão me tirar para dançar.
- Se eu fosse, muitos meninos também me tirariam para dançar.
- Então por que não vai?
- Em primeiro lugar porque não gosto de ir a lugares muito cheios e em segundo lugar porque não gosto de dançar.
- Você nunca dançou como pode dizer que não gosta?
- Já dancei sim, tá?!!
- Ah é? Com quem?
- Com o Rodrigo!
- Aquela criança que mora do outro lado da rua? Pelo Amor de Deus!
- Criança nada. Ele tem a minha idade.
- Você também é criança.
- Mas eu sou só um ano mais nova que você.
- E daí? É criança. Ainda brinca de boneca!
- Eu não brinco mais de boneca.
- Tudo bem, de boneca não, mas vive brincando de pique-pega com aquele menino.
- O Rodrigo.
- É! Esse mesmo! Eu não sei o que você vê nesse menino.
- Ele é muito legal.
- Legal, sei... Legal é aquele primo dele que vem aí de vez em quando.
- O João? Ele tem namorada, e ela é muito mais bonita que você.
- Como é que você sabe? Nunca viu ela.
- Vi sim, tá? Ele me mostrou uma foto.
- E desde quando você conversa com ele?
- Desde sempre, ué? Eu estou sempre lá com o Rodrigo. E sempre quando ele vai lá nós três ficamos horas conversando.
- Jura? Você nunca me contou isso.
- Eu não te conto tudo o que acontece comigo.
- E até parece que acontece alguma coisa de interessante com você.
- Acontece sim! Você não sabe nem da metade.
- Hum!!!! O que você está escondendo de mim, hein?
- Não vou te falar, é segredo!
- Então tá, já que você não quer falar.... Mas me conta, o João já falou alguma coisa de mim pra você?
- Aham!
- O que????
- Que outro dia ele estava chegando na casa do Rodrigo e te viu atravessando a rua....
- E se apaixonou profundamente! Eu sabia! Ninguém resiste ao meu charme!
- Posso continuar?
- Claro! Claro!
- Aí, quando você estava atravessando tropeçou e caiu de bunda no chão. Hahahahahahahahahah!!!!!!!
- Mentira!
- Verdade! Se você quiser pode ir perguntar pra ele.
- É claro que eu não vou perguntar pra ele. Morro de vergonha só de dizer “oi”.
- Ué! Você não é tão bonita, tão charmosa, achei que fosse ter certeza de que no minuto em que você falasse com ele, ele se apaixonaria profundamente.
- E ainda acho! Só que se eu for lá falar ele vai achar que sou apaixonada por ele.
- E não é?
- Sou, mas ele não pode saber disso. Se ele souber vai achar que sou muito fácil e vai desistir. Tenho que da uma de difícil, entendeu?
- Não!
- Ai, você não entende nada mesmo!
A mãe entra no quarto.
- Vamos, Joana.
- Vamos mãe, espera só eu retocar o meu batom.
- Mãe, posso ficar acordada esperando a Joana chegar?
- Ela vai chegar tarde, minha filha.
- Eu sei, mas amanha é sábado.
- Tá, tudo bem.
- Pronto. Podemos ir agora. Tchau, Tati. Quando voltar te conto como foi, me espera, viu? Vê se não dorme.
- Pode deixar. Boa festa!
- Obrigada.
- Ah! Joana!
- Sim!
- Você está linda!!!!!
- Eu sei
!

Wednesday, March 14, 2007

Unfinished Sympathy

As vezes eu acho que estou dissolvendo junto com a lembrança de nós dois. Isso dói! Mas é uma dor suportável e assim eu continuo a viver.


Eu tenho asas de borboleta em minhas costas, posso voar pra onde quiser. E esse lugar é tão distante do que eu achei que fosse você.




"I know that i've been mad in love before
And how it could be with you
Really hurt me baby, really cut me baby
How can you have a day without a night
You're the book that I have opened
And now i've got to know much more
The curiousness of your potential kiss
Has got my mind and body aching
Really hurt me baby, really cut me baby
How can you have a day without a night
You're the book that I have opened
And now I've got to know much more
Like a soul without a mind
In a body without a heart
I'm missing every part"

Unfinished Sympathy - Massive Attack

Thursday, February 22, 2007

Todo dia o sol se põe.
Toda lua é uma fase.
Todo ódio se transforma.
Todo raiva deforma.
Toda luz se apaga.
Toda sombra some.
Todo mar sobe.
Todo rio desce.
Todo futuro se desconhece.
Todo presente se dissolve.
Todo passado passa.
Toda a amizade se dispersa.
Toda paixão se esvai.
Todo amor se acaba.
Todo carnaval tem seu fim.

Monday, February 12, 2007

Summer Interior (conto baseado no quadro Edward Hopper)


A cortina estava mal fechada e um feixe de luz invadia o quarto. Ana colocava a mão no rosto relutando em acordar.
Durante a noite ela sonhou com homem de cabelos pretos e terno cinza. O rosto era sombra. Cobriu o rosto com o lençol tentando fugir da luz que entrava pela janela. Era uma manhã de verão, o sol estava forte e o céu estava azul. O telefone tocou e Ana foi obrigada a acordar.
Uma voz desconhecida do outro lado com uma fala seca dizia coisas que Ana não compreendia. “Quem? Aonde?”, Ana perguntava, mas a voz falava tão rápido que ela não tinha tempo para assimilar as coisas. Perguntou se o que o homem dizia era verdade e a resposta afirmativa a fez ficar mais confusa. O homem então desligou o telefone. Ana conseguiu entender apenas algumas palavras: Pedro, carro, infelizmente. Tentou ligar os fatos mas os fatos não se ligavam. Pedro passou a noite naquele quarto de hotel e havia saído de lá há apenas dez minutos atrás para comprar um pão fresco e um café quente na padaria da esquina. Ana gostava de café bem forte para acordar e naquele hotel só se fazia café fraco, então Pedro foi na padaria da esquina. Ele saiu de lá saltitando de felicidade, pela primeira vez levaria café na cama para alguém que realmente amava. E Ana dormia sorridente ainda sentindo pelo corpo o prazer que sentiu durante a noite. Antes de sair Pedro deu um beijo em Ana e prometeu não demorar. Não queriam ficar nem um segundo sem se tocar.
Eles estavam tão felizes que Ana não conseguia entender a palavra “infelizmente” que vinha do outro lado da linha telefônica. Pensou e pensou. Decidiu levantar da cama se arrumar para quando Pedro chegasse. Queria estar linda e tinha que se arrumar rápido pois Pedro prometeu não demorar. “Só pentear um pouco o cabelo e lavar o rosto, isso não demora”. Então Ana se levantou e subitamente todas as palavras ditas ao telefone fizeram sentido. Suas pernas ficaram fracas. Ana caiu no chão e chorou.

Sunday, February 04, 2007

Ela

Seus cabelos brancos pesavam em sua cabeça, mas ela ainda era jovem, pelos menos jovem no olhar. Ela sabia o que queria, mas sempre ficava na dúvida. Uma dúvida que a dissolvia até ela ficar pálida, quase transparente. E seu medo de transparecer seus sentimentos e pensamentos com tamanha transparência era tão grande que ela sorria o tempo todo ou não sorria nunca. E falava de coisas fúteis e de idéias mirabolantes. Mas no fundo ela sentia medo, só medo. Seus cabelos brancos mentiam por ela uma idade e uma maturidade que ela ainda não havia alcançado. Desde os nove anos eles estavam ali em sua cabeça. E ela esqueceu que precisava crescer. Não, ela não cresceu. Agora ela sofre, mas ri para não transparecer. Agora ela precisa crescer mas não quer. Agora sua cabeleira é grisalha e ela não tem mais nove anos. Ela tenta e tenta viver no mundo da lua como vivia. Pensa que seus cabelos brancos e sua pele pálida são conseqüências de uma boa vida lunar. Ainda sonha em ser astronauta. E seus sonhos ainda enchem seu peito de alegria e ainda tiram seus pés do chão. “Volta menina, não se vá voando com o vento”, era o que sua mãe dizia quando ela era pequena e magrela porque não comia. Mas agora ela come bem e sua mãe continua dizendo: “Volta menina, não se vá voando com o vento”. Pra conseguir viver fora do mundo da lua ela foi fazer algo não muito terrestre, mas já era uma tentativa. Viver num mundo branco onde cores vão surgindo trazendo imagens em movimento. Sempre pálida agora ela sorri com um pouco mais de transparência. E seus cabelos grisalhos brilham com a luz do luar. Ela ainda visita a lua frequentemente sonhando em ser astronauta. Ela ainda pensa que é criança e tenta a todo custo voar com o vento. Ou colocar seus sonhos dentro de um foguete.
10
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3
2
1
Ela continua aqui.

Sunday, January 28, 2007

você e eu

Sobre você e eu
Nada a declarar
Agora não adianta mais
Nada.
Nos tornamos
Distantes
Tão perto
Tão longe
Parados no mesmo lugar
Passado e futuro
O presente ainda não se sabe
Continua se dissolvendo no ar

Você
Eu
Sobre nós
Não adianta mais
Nada.
Estamos nós sempre
Tão presentes
Tão ausentes
Aqui

Somos nada.
Somos juntos
Um tanto separados
Somos sempre
Nunca
Somos
Tudo
Somos
Nada.






e eu amei
e eu amo
como nunca amei ninguém

Wednesday, January 24, 2007

Nina

Nina olha para sua barriga que cresce a cada dia. Sem lembrar quando aquilo aconteceu, ela passa a mão pela sua barriga com carinho. Um sorriso tímido surgindo nos lábios mostra o quanto Nina está feliz. Nua ela fica se olhando no espelho por horas. Imagina que aquilo é eterno, ou que pelo menos dure nove meses. Sua mãe bate na porta com uma determinação maternal. Nina se espanta e prende o choro. Sua mãe fala coisas para ela que toda mãe fala para uma menina com a barriga crescendo. Nina não ouve. Está muito triste para ouvir e quer continuar imaginando que aquilo é eterno. Sua mãe a pega pela mão e Nina finge não lembrar para onde está indo. Ela tenta esquecer a todo custo. Não tira a mão da barriga por nem um instante. De repente ela fecha os olhos com medo da dor e uma lágrima escorre. Nina se perde por alguns instantes dentro de sua barriga crescente. Abre os olhos e vê o rosto de sua mãe. Esta segura a mão da filha com força, séria, mas sem sinal de preocupação. Nina nua volta para frente do espelho e sua barriga não cresce mais. Ela sente saudades daquela barriga bonita. Sente saudades de fingir que aquilo era eterno. Nina faz de conta com uma almofada e sua mãe entra no quarto fingindo que não viu e que não sabe. Nina sofre. Pega uma boneca colocando-a no colo, dando de mamar. Ela quer a barriga de volta e o que nela estava crescendo. Nina não lembra quando aquilo aconteceu porque ela não sabe como essas coisas acontecem. Achou que fosse coisa de Deus porque foi assim que ensinaram para ela. Aquilo que aconteceu ela não sabia o que era. Ficou feliz quando soube que sua barriga ia crescer pois foi assim que aconteceu com Maria. Mas Nina não é mãe de Jesus e também não era virgem como Maria. Alguém disse para ela que aquela coisa era pecado, mas ela não sabia que coisa era aquela. Sua mãe fingiu que não sabia. Nina sofria, mas ela sim não sabia o que acontecia. Nina era menina, muito menina, gostava de brincar de boneca. Achou que fosse ter uma boneca só dela que estava crescendo em sua barriga. Sua mãe não gostou de ser mãe de mãe. Sua mãe fingia que nada acontecia. Sua mãe fingia muito. Fingia tanto que tampava o ouvido a noite, prendia o choro. Mas aquela barriga crescendo não dava pra fingir, e muito menos o que sairia daquela barriga. Nina chorava sozinha às vezes. Outras vezes brincava de boneca e de fugir de casa. Nina sabia que aquilo doía e Nina a noite sofria. Mas de manhã acordava e sorria, porque ainda brincava de boneca e gostava de fadas e sonhava em ser princesa. Depois daquele dia em que Nina perdeu a barriga crescente nunca mais foi a mesma. Não tinha mais graça a brincadeira com boneca de plástico, ela queria a boneca crescendo dentro dela. Mas Nina ainda acreditava em fadas e quis voar como uma. Então um dia Nina saiu voando pela janela de seu quarto. Voou tão alto que nunca mais voltou. Sua mãe fingiu que ela ainda ia voltar. E agora à noite ela não consegue mais prender o choro.

Saturday, January 20, 2007

me perdi

E eu me perdi. Assim como se perdem os guarda-chuvas. Mas não, não há um mundo paralelo pra eu ir. E lá não há você. Sem conseguir me lembrar de como era a vida antes, eu vou tateando no escuro a procura de algo para me segurar. E lá não há você. Não há você mais em lugar nenhum. E talvez eu nem me lembre mais. O esforço que faço pra me achar é o mesmo que faço para esquecer. Fecho os olhos e abro os olhos. Pisco rapidamente ou demoradamente. Nada muda. E como já senti outras vezes: a cama ficou vazia e grande. Então eu rolo para tentar esquecer o agora ou para tentar lembrar de como era antes. E me perco cada vez mais. E me esqueço. E me envolvo com um mundo que não via há mais de um ano. E seguro meu guarda-chuva, pois chove sem parar lá fora. Aqui só chove dentro de meus olhos, mas sem derramar as lágrimas. Lágrimas só fora da janela. Hoje abriu o sol. Assim como naquele verão. Sim, houve uma vez um verão. E nele havia você. Mas esse verão acabou do lado de fora. E lá não há você. Nem aqui. E eu me perdi. Sem saber, eu me perdi. Me perdi porque não lembro mais de como era a vida antes. De como era vida sem você.

Friday, January 05, 2007

A rosa

Houve uma vez um verão
Que começou com um fim
O fim da flor
Da rosa
Esta foi perdendo as pétalas
Pouco a pouco
Até ficar só o botão

Durante o ano
Ela tinha se fortalecido
Crescia a cada dia
Vermelha
Linda

Mas ela foi murchando
Talvez porque esqueceram de regá-la
Talvez porque regaram demais
Ou talvez porque esqueceram de cuidá-la
Talvez porque cuidaram demais

E naquele verão
Sobrou só o botão

No verão anterior
A rosa havia sido entregue
Única e singela
Para a menina de cabelos grisalhos

Guardou a rosa por um ano inteirinho
Até que ela murchou
Se despetalou
Sobrou só o botão

Houve uma vez um verão
Que começou com um fim
O fim da flor
Que flor?
Da rosa.
Que rosa?
Que a menina grisalha ganhou
Mas ela nunca ganhou uma rosa.