Monday, October 02, 2006

Lágrimas

Lágrimas escorrem de meu rosto
Involuntariamente
Não por tristeza
Mas por alegria

De saber que deixo vocês
Destinados a uma vida ingrata
E covarde

Penso na minha família com amor
Por pura obrigação
Pois repudio tudo o que fizeram por mim
E agradeço pela merda de vida
Que me proporcionaram

Reprimiram
Invadiram
Oprimiram
Chutaram
Cuspiram

Fizeram de mim o mais tolo dos homens
O mais infeliz

Mostraram-me tudo que a vida tinha a oferecer
E me tiraram todos os prazeres e amores
Ensinaram o quão podre eu era

Então me junto aos vermes
Numa atitude elevada
Sensata

A hora está chegando
As lágrimas estão secando
Não darei o gosto a vocês
De ir chorando por quem me repugna

E minha última lágrima
Dedico aqueles
Que mal me conhecem
Mas mesmo assim estarão lá
Para olhar meu corpo
E meu rosto tampado
A cabeça estourada

Sem derramar uma lágrima
Apenas pensar: aquele podia ser eu
E agradecer por ser eu ali
Inerte e indolor

Pois essa será a atitude mais nobre
Que alguém já fez por mim

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