Seus cabelos brancos pesavam em sua cabeça, mas ela ainda era jovem, pelos menos jovem no olhar. Ela sabia o que queria, mas sempre ficava na dúvida. Uma dúvida que a dissolvia até ela ficar pálida, quase transparente. E seu medo de transparecer seus sentimentos e pensamentos com tamanha transparência era tão grande que ela sorria o tempo todo ou não sorria nunca. E falava de coisas fúteis e de idéias mirabolantes. Mas no fundo ela sentia medo, só medo. Seus cabelos brancos mentiam por ela uma idade e uma maturidade que ela ainda não havia alcançado. Desde os nove anos eles estavam ali em sua cabeça. E ela esqueceu que precisava crescer. Não, ela não cresceu. Agora ela sofre, mas ri para não transparecer. Agora ela precisa crescer mas não quer. Agora sua cabeleira é grisalha e ela não tem mais nove anos. Ela tenta e tenta viver no mundo da lua como vivia. Pensa que seus cabelos brancos e sua pele pálida são conseqüências de uma boa vida lunar. Ainda sonha em ser astronauta. E seus sonhos ainda enchem seu peito de alegria e ainda tiram seus pés do chão. “Volta menina, não se vá voando com o vento”, era o que sua mãe dizia quando ela era pequena e magrela porque não comia. Mas agora ela come bem e sua mãe continua dizendo: “Volta menina, não se vá voando com o vento”. Pra conseguir viver fora do mundo da lua ela foi fazer algo não muito terrestre, mas já era uma tentativa. Viver num mundo branco onde cores vão surgindo trazendo imagens em movimento. Sempre pálida agora ela sorri com um pouco mais de transparência. E seus cabelos grisalhos brilham com a luz do luar. Ela ainda visita a lua frequentemente sonhando em ser astronauta. Ela ainda pensa que é criança e tenta a todo custo voar com o vento. Ou colocar seus sonhos dentro de um foguete.
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Ela continua aqui.