Thursday, August 31, 2006

Folhas Amareladas (um conto inacabado)

Ela estava sentada num banco da praça lendo um livro de algum autor inglês ou americano da década de 40, talvez 50. Era outono e as folhas das árvores caíam pela praça, amareladas. Uma ou outra folha caía em cima do livro fazendo ela parar de ler e olhar para as folhas no chão. Seu cabelo preso num coque malfeito com a franja solta que insistia em cair no seu rosto e ela insistia em colocá-la de volta atrás da orelha. Ela lia palavra por palavra mas sua mente pensava mesmo era na noite anterior em que ela disse a ele: “Não”. E um “não” assim tão definitivo que ela sentiu medo. Talvez fosse medo de ficar sozinha. Mas ela sempre foi sozinha, menos quando esteve com ele. Nunca soube porque ele se aproximou dela ao ponto de fazer aquela pergunta. E ela respondeu: “Não”. Um “não” assim tão definitivo que ele nunca mais iria voltar. Ela não ficou confusa. Nunca esteve tão decidida. Ficou com medo e foi para praça com folhas amareladas no chão ler o livro do autor inglês ou americano da década de 40, talvez, 50, tentar fazer o medo passar. Mas toda vez que ela via uma folha cair lembrava-se: “Você me ama?” “Não!”
E as folhas não paravam de cair. E ela não parava de pensar e não conseguir ler, mas mesmo assim virava as páginas do livro como se estivesse lendo de verdade. O livro era de contos. E o conto que lia era sobre mulher solitária que todos os domingos vai a praça da cidade ver a banda tocar e depois voltava para casa, talvez mais solitária ainda.
E ela disse “não”.
E ele nunca mais ia voltar.

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