Quando ele abriu a porta de casa ela estava sentada no sofá estática, com os olhos virados para a mesa de centro, mas o olhar perdido. Ele entrou, colocou sua pasta em cima da mesa e sentou-se ao lado dela. Ela não se moveu.
Ele ficou ali um pouco sem saber direito o que fazer. Ele nunca soube como se aproximar dela, principalmente na última semana. Na verdade ele queria que ela se aproximasse dele.
O telefone tocou, ele se levantou para atender.
- Alo!
...
- Oi. Tudo bom?
...
- Quando?
...
- Vou anotar. Amanhã, seis horas, igreja São João Batista, ta bem, vou avisar a ela. Obrigado. Beijo, tchau.
Desligou o telefone, virou para ela e disse:
- Sua mãe marcou a missa para amanhã.
Ela nem ouviu, estava com o pensamento longínquo. Ele então foi na cozinha e pegou um copo d’água. Percebeu que sua mão continuava a tremer. Há uma semana que estava tremendo.
Terminou de beber e foi tomar banho. Passou pela sala e olhou para ela que nem se moveu. Tomou banho calmamente, colocou seu pijama e voltou para sala. Ela continuava lá, sentada, agora tinha cruzado as pernas, mas seu olhar continuava perdido.
Ele sentou-se de novo ao seu lado. Sem olhar para ele ela perguntou:
- Que horas são?
- Oito.
- Tenho que dar o jantar para o Paulinho.
Levantou-se rapidamente como se tivesse esquecido algo importante. Parou, lembrou do que aconteceu e sentou-se novamente. Ele pegou na sua mão e ficaram ali sentados, de mãos dadas sem falar uma só palavra. Não tinha nada a ser dito.
Vejo uma boa cena de teatro...
ReplyDeleteou -com exceção dos pontos, um texto da Clarisse Lispector?
Ou quem sabe, cenas reais de pais que perderam filhos?