Friday, August 16, 2013

Um natal qualquer numa noite qualquer


E dia 25 de dezembro era dia de preparar o almoço natalino com meu pai, tradição que tinha começado alguns antes. Mas esse ano seria ligeiramente diferente, esse ano iríamos cozinhar e almoçar na casa da nova namorada dele: todos os filhos, ele, ela e o irmão dela, que eu nunca tinha visto na vida. Peru, purê de maça, farofa, arroz, salada, brownie e sorvete. Uma ceia completa!
Eu nervosa, toda cheia de farinha no rosto e no cabelo, querendo que tudo saísse perfeito. Uma taça de vinho para acalmar os nervos. E por que cargas d'água eu estou tão nervosa assim? Todo ano é a mesma coisa.
Tocou a campainha, os meus irmãos. Coloca o brownie no forno, queima o dedo. Tocou a campainha de novo, o irmão dela. Com o dedo ardendo saí da cozinha sem nem perceber que tinha chocolate no rosto, olhando atenciosamente para o dedo queimado esperando ver se a bolha crescia. Não cresceu.
- Esse é meu irmão!
Olho para a sala e me deparo com todo a família com suas vestimentas natalinas não tão chiques assim, mas chiques demais para ficar em casa. Ele olha para mim e sorri. E eu não lembrava que ele teria a minha idade. Falei um oi um pouco sem graça, lembrei que eu estava cheia de farinha e corri pro banheiro. Saco, to toda descabelada e ainda com chocolate na testa. Lavei o rosto, penteei o cabelo, troquei de roupa e voltei para sala.
O almoço já estava sendo servido e todos sentavam em torno da mesa. Passa o arroz, agora o purê, quem quer mais peru? E de repente tudo se acalmou e eu vi ele me olhando. Abaixei rapidamente a cabeça e fingi que estava só comendo. Olhei para frente novamente e lá estava ele. Eu sorri e ele sorriu.
Nos encontramos um tempo depois a noite no meio da rua. Ele me convidou para tomar uma cerveja. Sentamos num bar qualquer num bairro qualquer numa cidade qualquer numa noite qualquer. E em como qualquer noite bebemos conversamos e sorrimos. Andando para o carro ele segurou na minha mão, e de mãos dadas fomos andando e andando e ele reclamou que o carro estava longe, e eu disse pra ele deixar de ser preguiçoso. A gente andou mais e mais e chegou na cozinha. Depois no quarto e caímos na cama gargalhando.
- Bom dia simpatia!
Ele disse do outro lado do telefone. E todos os dias do outro lado do telefone, do outro lado da tela, na outra extremidade da América. Até que se calou.
E o natal passou frio e sem neve.

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