Saturday, September 08, 2012

Para ele, com amor e sordidez

Ela se arruma e se olha no espelho, pensa o quanto mudou todos esses anos. Será que ele vai perceber? Arruma o cabelo de um jeito diferente. Nervosa. Último retoque e um gole de cerveja. Ele já está na porta a sua espera, e ela sai e não consegue conter o sorriso. Das pessoas mais importantes e ele foi também o primeiro. Um abraço largo e apertado.
Pausa.
Na sala de aula eles conversam sem parar e fazem confidências. No alto da serra passam a noite em claro com os corações partidos um no ombro do outro. No bar ele diz que eles devem se casar com 30 anos. Em casa ele diz que não pode ser com qualquer um, e a beija. Na cama... na cama. E na cama.
Pausa. 
Ele liga. Ela vai e agora já tem 25 anos. Conversam como se não tivesse passado tempo algum. Se tocam e sorriem. Se tocam e somem novamente. Faz muito tempo aquilo e não tem mais nada. 
Pausa.
Eles caminham e ela o leva para sua nova vida. E como resumir 4anos em uma noite? Sentados cada um num lado da sala, falam das coisas como se estivessem estado sempre ali. Uma saideira? E ela entende. Se pergunta várias vezes se quer mesmo. Levanta decidida a ir embora. Um longo abraço, saudades, se entreolham. Larga a bolsa, tira a roupa, e pela primeira vez ele a abraça na hora de dormir e beija sua nuca. Ela não dorme. E uma pequena esperança a incomoda. Ela se veste e se despede. Dois beijinhos. Até ano que vem.
Dos mais importantes, e ele foi também o primeiro. Dos mais amados, e ele foi também o que não aconteceu. Dos que passaram, ele foi também o que ficou. Espalhado por todos esses anos, desmembrado, disforme, só de vez enquando, só por uma noite, só porque te amo. Até ano que vem, no altar. 

Monday, August 13, 2012

Vasculho na memória empoeirada as lembranças daqueles dias que me sentia completa, mesmo estando incompleta. Aquele amor todo, daquela forma toda, estranha.
Acho angustia, acho ansiedade, acho magreza, acho uma falsa felicidade e um falso amor. Acho aquilo tudo e aquilo nada. Acho um vazio dentro do peito, que pensava eu estar tão cheio. Acho uma falta, uma saudade, um delírio. Um sentido deturpado que acabou explodindo o que de bom restava ali.

E o coração segue apertado de tanto vazio.

Tuesday, June 19, 2012

13 Horas

Ela. Ele. E todo um mundo no meio. São 30cm e 13h de diferença. Lá do outro lado do mundo ele dirige para o trabalho do lado oposto. Ele se sente sozinho e adota um gato. Aqui desse lado do mundo, ela não gosta de gatos, e olha para o celular de 5 em 5 minutos. Ele escreve às 6 horas da tarde, ela recebe às 5 horas da manhã. Ela acorda, prepara o café. Ele chega do trabalho, prepara o jantar. Celulares a postos. Mensagens. I miss you.
Na mesma cidade eles se olharam. De mãos dadas, ela olha para cima sorrindo, ele olha para baixo e aperta a mão dela. De mãos dadas, no alto do precipício, eles se entreolham e pulam juntos. Ela cai aqui, ele voa lá para o outro lado. Tem a Africa e 13 horas entre eles agora. Mas quando é inverno lá aqui também faz frio. E agora faz frio. Ele dorme quando ela acorda. Oceano Pacífico de um lado, Atlântico e Índico do outro. Três oceanos dividindo a cama junto com eles.
Ela sai para o trabalho, ele se arruma para dormir. Ele sonha com ela e dorme abraçado ao celular. Ela pensa nele. Textos, letras, símbolos, teclas, telas. Eles viram apenas imagens de um amor que passou e continua aqui. Cada um em seu continente. 

Monday, May 14, 2012

Depois de 5 meses 2semanas e 9hs, o piloto anunciou:
- Senhores passageiros dentro de alguns minutos estaremos aterrizando no Rio de Janeiro.
E foi nesse exato instante que algo em mim se perdeu. Eu apertei o cinto, fechei os olhos e quis muito acreditar que estava na verdade aterrizando lá.
Entrei no meu quarto e fiquei sufocada pela vida ali estagnada. Quis quebrar tudo, atirar pela janela as lembranças daquela menina que não existe mais.
Alguns abraços apertados preencheram por frações de segundo o vazio. Mas terminado o abraço o buraco negro aumentava e jogava para longe todos aqueles que costumavam a estar sempre aqui perto. E de repente percebi que perdi meu lugar. Não pertenço mais aqui, não pertenço mais lá. Essa vida aqui parou e eu segui em frente. E como fazer todo mundo entender que eu não sou mais aquela? E pedir por favor, não me perguntem nada! Tudo que eu sabia ficou perdido em algum lugar entre Nyc e Rio.